sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Que balaio é esse?

Minha avó guardava seus crochês num pequeno balaio de palha. Ali, agulha, linha e pequenas mostras de pontos delicados esperavam, todos os dias, pelo carinho de suas mãozinhas já enrugadas, mas ainda firmes.

Não me lembro de um dia sequer, em sua saúde, que não tenha se dedicado àquele amigável colóquio.

Minha avó era uma mulher de muitos talentos: crochê, costura, bróia, culinária...era sem dúvida uma profunda conhecedora da vida.

Às vezes Vó Vina dizia umas coisas intrigantes. O mais simples dito popular saía de sua boca com ares de sabedoria milenar: “Costureira que costura sem dedal, costura pouco e mal!” – dizia. Não tardei muito em entender a real dimensão disso, nunca me afinei com os dedais... Não sei costurar, atenho-me a pregar botões e fazer bainhas.

Aprendi também (com ela) alguns nozinhos de macramé, a que chamávamos “bróia”, na linguagem cabocla tão estranha da Vó-madrinha. Mas nunca tive tempo para dedicar ao artesanato.

De tudo quanto aprendi com minha avó cultivamos em comum o prazer de preparar e saborear comidas caipiras, sobretudo um prato que em muito se assemelha à história da nossa família: Gairova com frango e angu (existe algo mais caipira do que isso?). O segredo para vencer a amargura do palmito está na simplicidade do tempero, na brandura do fogo, no amor e dedicação que se tenha àquilo que se está fazendo.

Eu observava e atenta ouvia seus conselhos ao fogão. Cozinhar, para ela era um rito de oração.

Do crochê, cheguei até a montar algumas peças simples, mas nada que pudesse parear com os pontinhos miúdos e firmes que ela fazia. Afinal, essa era a sua arte e nisso, ela era uma mestra inconteste.

Minha arte é outra, nem menor, nem maior, apenas diferente. Certamente revela o que sou no meu íntimo e, nesse caso, é impossível negar minhas raízes.

Sem barbantes nem nós, sem linhas nem agulhas, nada de dedais, mas com profundo respeito pela história e muito amor pelas memórias, este é o “meu balaio”.



2 comentários:

Unknown disse...

Te amo Marta... minha irmã do coração, aquela que eu escolhi.
Estou emocionada...voltei ao tempo de criança, foi bom por demais!!! Obrigada,beijão..... Mariângela

Unknown disse...

hello